Por Adriano Batista – Diretor Executivo Adel
A expressão “defensores da Caatinga” parece utópica diante do grave desmatamento do bioma. A impressão que eu tenho, é que não tem jeito de parar a devastação. Que não existe ninguém quem tenha interesse pela “mata branca”. Mas, isso não é verdade.
Experiências como a do jovem Everardo Alves, de Apuiarés (CE), que passou de predador a preservador das abelhas nativas e de desmatador a protetor da floresta em pé é uma prova que temos muitos defensores da “mata branca”. Eu acredito que essa nova geração com maior escolaridade e acesso às novas tecnologias tomarão as rédeas do processo de preservação da Caatinga.
Organizações públicas e privadas dão conta da imensa devastação da Caatinga, em uma realidade onde 50% de sua cobertura vegetal foi derrubada e aproximadamente 60% de sua extensão se encontra susceptível à desertificação. Acredito que esses níveis de degradação estejam relacionados à ocupação desordenada e à forte presença humana no bioma: 27 milhões de pessoas, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente.
A tendência é que a população continue crescendo. Por isso, é urgente e necessária a criação de estratégias de convivência sustentável com o bioma Caatinga. Caso contrário, veremos nossa floresta desaparecer. Percebe-se que as novas gerações estão compreendendo rápido que é possível viver no campo com qualidade de vida, que é possível produzir aliando desenvolvimento e sustentabilidade ambiental. Acredito que essa conscientização da juventude se deve, entre outros fatores, à melhoria dos índices educacionais, do acesso a conhecimento, às políticas públicas e a programas da própria sociedade civil.
Everardo é um desses jovens que começou suas atividades de apicultura em 2007, com cinco caixas de abelhas com ferrão. Ao longo do tempo, participou de vários cursos e assim se profissionalizou na atividade. Hoje a apicultura é sua principal fonte de renda. O jovem se tornou um empreendedor, um apicultor e um defensor da natureza. Ele, juntamente com outros jovens da comunidade, participa da rede de meliponicultores “Néctar do Sertão”.
Experiência semelhante a essa é a de Sabrina Santos, de São Luís do Curu (CE), Técnica em Agropecuária, que uniu a criatividade com sua formação para criar a floricultura “Flor do Sertão”. A iniciativa tem uma proposta sustentável e de valorização da vegetação característica da Caatinga. Ela começou a produzir jarros rústicos de cactos e suculentas ornamentais, utilizando materiais da floresta.
Soma-se a essas experiências o caso da Jéssica Gama, agrônoma, que investiu na agricultura sustentável, um sonho que tinha desde a adolescência. Ela acredita que é o caminho para permanecer na sua comunidade com qualidade de vida. Cultiva grãos na propriedade da família e agora investe na produção de frutíferas e hortaliças agroecológicas.
Experiências desse tipo estão aumentando a cada dia no Semiárido e precisam de apoio para que se tornem referências positivas da permanência dos jovens na comunidade, de empreendedorismo rural sustentável e de preservação da Caatinga. Essas e muitas outras experiências de jovens atendidos pela Adel e por outras organizações com atuação no semiárido demonstram que a juventude é capaz de criar um futuro diferente para a Caatinga.