Gestão e acesso à água no Semiárido

Chegamos a mais um Dia Mundial da Água e, neste 22 de março, o debate se mostra cada vez mais urgente sobre esse recurso imprescindível para nossas vidas. Milhões de brasileiros são afetados com a falta de acesso à água potável. 

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) os números indicam que até 2025 o problema deve afetar 52 países e 3,5 bilhões de pessoas no mundo. No Semiárido, onde a distribuição de água sempre foi marcada pela desigualdade e escassez, a relação de homens e mulheres com a água se confunde com as próprias histórias de vida.

Dona Cléa Gomes, agricultora da comunidade Limoeiro, no município de Pentecoste, Ceará, beneficiária do nosso Programa Soluções Rurais, diz que “a água é tudo na vida da gente”. Ela e o esposo fizeram o caminho inverso da maioria da população. Saíram da Capital, Fortaleza, e foram seguir a vontade de viver do campo. A atividade quase foi interrompida pela estiagem. Segundo ela, os anos mais críticos foram de 2013 a 2016. “Têm muitas mulheres que enfrentaram a dificuldade que eu enfrentei, mas levantaram a cabeça, fizeram empréstimos para levantar poços profundos e isso foi dando certo”, relata.

Dona Cléa Gomes, agricultora da comunidade Limoeiro, no município de Pentecoste, Ceará. Foto: Tamires Kopp

Na comunidade Pau Ferro, no município Caetés, em Pernambuco, Dona Ediúza Zumira, ressalta que “sem água ninguém vive”.  A agricultora conta que o acesso à água para consumo humano e produção de alimentos sempre foi escasso na região.  “Comprava caminhão de água por 200 reais e não rendia nem um mês, pois tinha que aguar as plantas e também dar para os pequenos animais para não morrer de sede”, lamenta.

Uso de tecnologias socioambientais

O uso de soluções inovadoras para proporcionar o acesso a água de qualidade, bem como o reaproveitamento deste líquido tão necessário para o desenvolvimento local tem modificado a paisagem no Semiárido e as trajetórias de vida. No caso de Dona Cléa, a mudança veio após a instalação de um poço profundo para ter água para o consumo e cultivo. Agora, eles se dedicam ao plantio de repolho, cheiro verde, tomate, macaxeira, milho e feijão. ”Nossa produção é maravilhosa. Hoje, temos os nossos produtos e levamos para a feira de Pentecoste.”

Dona Ediúza e mais 429 famílias que moram nos municípios Caetés e Capoeira passaram a ter acesso à água de qualidade para consumo e produção agrícola após a implementação de 389 tecnologias socioambientais pelo Programa Echosocial Ventos que Transformam, iniciativa da Echoenergia (Grupo Equatorial Energia) executada por nós nas comunidades Laguinha, Barrocas, Quitonga, Exu, Mulungu, Serrote, Tanque Novo, Pau Ferro, Toquinho, Serra de Dentro, Paraguai e Vermelha, Sítio Piado e Boa Vista do Inácio.

Dentre as tecnologias implementadas, destacamos a revitalização e implantação de cisternas de placas, barreiros trincheiras, tanques em lajedo de pedra e reservatórios elevados. As cisternas de placas contaram com a instalação de um Aqualuz, tecnologia para tratamento de água de cisterna usando a luz do Sol premiado pela ONU e desenvolvido pela nossa parceira SDW. O Aqualuz permite o acesso à água potável por até 20 anos para as famílias. Sua manutenção é simples e demanda apenas uma limpeza com água e sabão, sem precisar de manutenção externa ou energia elétrica.

Dona Iraneide Tavares, moradora da comunidade Quitonga, em Caetés, celebra a chegada da cisterna e de um Aqualuz. “Hoje tenho uma cisterna pertinho, uma água boa, da chuva. Antes a pessoa pegava água com o balde, aí hoje não, tem a bomba, não precisa colocar o balde dentro da cisterna, tem o Aqualuz para filtrar água que é muito bom, a água sai pronta pra você tomar”, comemora.

Além do uso de tecnologias socioambientais, a preservação das florestas e dos pequenos mananciais é essencial na gestão da crise da água. O Diretor Executivo da Adel, Adriano Batista, alerta que a falta de água para o consumo humano, dessedentação animal e uso produtivo levou a população do Semiárido a desenvolver estratégias de gestão da água. Mas, a água precisa ser bem utilizada independente da abundância ou escassez.

“A água pode acabar. É preciso tomar consciência desse fato. Precisamos avançar na agenda da preservação ambiental, na gestão democrática dos recursos hídricos e no desenvolvimento e propagação de tecnologias socioambientais de armazenamento da água nas regiões semiáridas. Apenas entendendo a importância e zelando pela sua conservação e qualidade é que se evitará a falta da água, pontua.

Nesta semana do Dia Mundial da Água, reunimos um time de profissionais para refletir sobre o tema gestão e acesso aos recursos hídricos. O momento é uma oportunidade para conhecermos mais sobre a problemática da água e soluções que estão fazendo diferença no uso racional de água no Semiárido. Meiry Sakamoto, Doutora em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME); esteve junto com José Dias, Coordenador Executivo do Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS); e, Conceição Gomes, Presidenta do Comitê da Bacia Hidrográfica do Curu (CBH Curu) em uma live transmitida pelo nosso canal do Youtube. Confira abaixo!

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