Por Adriano Batista e Lelis Duarte*
A Adel, através do Programa Soluções Rurais, busca contribuir para o desenvolvimento local de comunidades rurais, a partir da cooperação entre agentes da sociedade civil e da integração de soluções inovadoras e viáveis, nas diversas dimensões do desenvolvimento, em uma perspectiva ecológica.
Tomando do por base a dimensão ambiental do desenvolvimento local, a Adel acredita que as práticas de produção e de gestão dos estabelecimentos rurais são alguns dos maiores desafios para o desenvolvimento rural, especialmente no contexto do Sertão Nordestino.
Trata-se de uma realidade repleta de adversidades, em que os pequenos produtores precisam exercitar empreendedorismo e resiliência, aproveitando ao máximo a criatividade, engenhosidade e cooperação, buscando as melhores formas de convivência e superando as dificuldades do meio em que estão inseridos. Para que assim possam usufruir de forma mais eficiente dos recursos naturais disponíveis, gerando resultados positivos para suas comunidades e para cada uma de suas famílias.
As práticas inadequadas utilizadas pelos pequenos produtores em seus estabelecimentos rurais causam danos ambientais a serem considerados, já que são bastante agressivas ao meio ambiente. Técnicas de produção sustentáveis geram produtos de maior qualidade e com maior valor agregado, ao mesmo tempo em que permitem aos agricultores interagir de forma harmônica e positiva com o habitat natural, pensando estrategicamente no uso inteligente dos recursos disponíveis e na conservação das características que geram insumos especiais, únicos e que contribuem para a qualidade, para diferenciação e para o ganho de valor dos produtos com que trabalham.
Por essa perspectiva, as soluções de convivência com o semiárido são identificadas de acordo com as demandas, as oportunidades e as potencialidades das comunidades atendidas. Ao longo dos últimos dez anos, a Adel vem estimulando a organização de cadeias produtivas em territórios do Ceará e Rio Grande do Norte por uma perspectiva sustentável. Destacamos aqui o caso da Meliponicultura.
A meliponicultura é uma oportunidade econômica para a agricultura familiar no semiárido. As técnicas de produção são adequadas e condizentes com as peculiaridades da caatinga, bem como com as limitações e capacidades técnicas e logísticas dos pequenos produtores rurais da região. As tecnologias difundidas pela Adel priorizam o modelo agroecológico e, portanto, sustentável, de criação de abelhas, produção e processamento de mel, que será aplicado pelos pequenos produtores capacitados e assessorados em seus empreendimentos socioambientais comunitários.
Essa atividade não necessita de investimento alto inicial e tem grandes vantagens ambientais, a exemplo da extensa flora brasileira da caatinga com inúmeras plantas nectaríferas e poliníferas essenciais para as abelhas. As abelhas melíponas são, entre os insetos, também os mais importantes polinizadores de plantas cultivadas, principalmente de árvores frutíferas que necessitam delas para sua polinização. Economicamente, a meliponicultura contribui para a valorização da floresta em pé, pois depende dela para gerar valor monetário a partir de um produto florestal não-madeireiro. Em termos socioeconômicos, sempre representou um bom negócio e cumpre um papel social muito importante, de tal forma que envolve toda família. Além disso, o criatório de abelhas não precisa de cuidados diários, permitindo que o produtor rural possa realizar outras atividades. A rentabilidade da atividade exige, porém, profissionalização para render boas safras.
A difusão de tecnologias modernas, agroecológicas e de baixo custo na criação de abelhas, produção e processamento de mel é estratégia para geração de renda e de oportunidades de trabalho na região. Destacando-se o significativo valor agregado que os produtos agroecológicos têm hoje em mercados bastante lucrativos e relativamente próximos da região beneficiada. É também uma porta de entrada bastante oportuna para a inclusão de jovens produtores rurais nas atividades da agricultura familiar, enquanto empreendedores. Uma oportunidade para promover uma cultura produtiva trans e multigeracional, que congregue e engaje produtores de diferentes faixas etárias, trocando conhecimentos e transmitindo tradições e saberes.
Ao estimular a meliponicultura, a Adel colaborou para criação da Rede Néctar do Sertão na Região do Médio Curu. O empreendimento foi organizado por lideranças de cinco grupos de Apicultores e Meliponicultores. Abrange 44 criadores de 16 comunidades em dois municípios: Pentecoste e Apuiarés, no norte do Ceará. E possui mais de 350 colmeias em produção. No início a quantidade de colônias era muito pequena, mas por meio da técnica de multiplicação de enxames, os criadores vêm preservando as espécies e ampliando a criação.
A produção de mel ainda é pequena: pouco mais de 100 litros por safra. O que está diretamente relacionado com às estiagens prolongadas, à reduzida quantidade de pastos apícolas, ao desmatamento e ao baixo número de colônias. O mel produzido é vendido com muita facilidade, pois o produto, além de ser de boa qualidade, é um ótimo alimento e tem propriedades medicinais. O litro de mel de tipo Jandaíra é vendido em média por R$ 120,00 na região.
Os produtores estão ampliando paulatinamente a criação sustentável de Melíponas e outras espécies de abelhas nativas, agregando valor à produção de mel. Além disso, estão buscando mais conhecimento através de assistência técnica e capacitação. Pensando nisso, eles, em parceria com a Adel, construíram um Meliponário modelo na comunidade de Lagoa das Pedras, em Apuiarés.
Com o aprendizado correto do manejo dos animais pelos criadores, atualmente, praticamente 100% dos produtores faz alimentação artificial das colônias, evitando sua morte ou enfraquecimento. Além disso, dos 44 criadores integrados a Rede Néctar do sertão, 13 possuem em sua propriedade áreas protegidas e em recuperação e outros 27 estão protegendo e reflorestando uma área destinada a criação das abelhas.
Isso demonstra que a criação de abelhas, especialmente as nativas, é um fator importante para a preservação da caatinga e para o alcance do 15º Objetivo para o Desenvolvimento Sustentável (ODS): proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.
Portanto, acreditamos que é possível produzir, gerar renda e trabalho preservando o meio ambiente. Através de práticas condizentes com o semiárido e acessíveis a seus moradores, técnicas de produção sustentáveis, gerando produtos de maior qualidade e valor final agregado, ao mesmo tempo em que permitem aos agricultores interagir de forma menos agressiva com o habitat natural em que estão inseridos.
Adriano Batista é Diretor Executivo da Adel e Zootecnista. Lelis Duarte, Assistente de Projeto da Adel, Bióloga e Especialista em Gestão Ambiental.