Agricultora fortalece a biodiversidade local por meio da coleta de sementes 

No Dia Mundial da Agricultura, reforçamos a importância das pessoas que atuam no campo e produzem os alimentos que chegam à nossa mesa, principalmente as agricultoras e os agricultores familiares, com destaque para o protagonismo das mulheres nessa frente.

Além de atuarem na produção de alimentos, no desenvolvimento das comunidades rurais e na preservação do meio ambiente, as mulheres são multiplicadoras de saberes, guardiãs de sementes e da terra. No Assentamento Maurício de Oliveira, zona rural da cidade de Assu/RN, Ana Maria, 55, junto com o marido e seus três filhos, cultivam uma média de 90 plantas diferentes em seu quintal. Em uma despensa da casa, guardam mais de 100 tipos de sementes.

Ana é agricultora experimentadora e guardiã de sementes crioulas e nativas. Em sua propriedade está estruturado um banco de sementes formado a partir de coletas do campo e outras trazidas de encontros que participou. O banco guarda sementes variadas da Caatinga: mufumbo, catanduba, imburana, sabiá, angico, mucuna, lírio branco, feijão, milho, gergelim preto, entre outras.

Filha de agricultores, Ana herdou o serviço de guardiã do seu pai, que aprendeu com seu avô, e assim foram passando de geração em geração o cuidado com as sementes. Apaixonada pelo que faz, Ana tem o costume de guardar sementes desde criança.

“Semente para mim é vida, porque ela é uma vida que gera várias outras vidas e alimenta muita gente”, conta.

A agricultora ainda se divide entre as funções de cisterneira, cabeleireira, artesã, pescadora, vice-presidente da associação e integrante do grupo local de mulheres. Ana e sua família buscam uma nova relação com a terra. Trabalham com agroecologia e partilham seus conhecimentos com a comunidade e visitantes.

“O trabalho com as sementes começou desde a minha infância. Tem dia que eu saio em busca delas e só acho plástico, garrafa, chego com uma sacola bem grande cheia, mas mesmo assim chego feliz. Se eu não coletei a semente, eu fiz outro tipo de coleta. A gente já sente o aumento da temperatura por falta de árvores no meio ambiente. Aí é por isso que insisto com esse trabalho de mexer com a mãe natureza, de preservar o local onde vivo, para mim é o que eu gosto de fazer”, reforça Ana.

O banco de sementes serve como garantia para produtoras e produtores rurais, pois mesmo os melhores exemplares podem sofrer com questões climáticas, como a falta de água, um dos principais problemas que afetam o Assentamento Maurício de Oliveira. As sementes estocadas podem ser usadas para recuperar a produção posteriormente. As sementes crioulas são essenciais para a preservação do patrimônio genético das espécies e na garantia da manutenção de valores culturais de comunidades agrícolas. 

Por trás da coleta de sementes, existe o fortalecimento da agricultura e da conexão entre os povos da Caatinga e seus territórios. A partir desta prática, as famílias conhecem de perto o comportamento da fauna e da flora local, os momentos exatos de dispersão das sementes, além dos fatores que podem influenciar diretamente no manejo das plantas.

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