O dia 8 de março é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1975 como sendo o Dia Internacional da Mulher. Mais que comemorar a vida das mulheres fortes, determinadas, resilientes, perseverantes, empreendedoras, dentre outras características que lhes tornam únicas, a data é um convite para fortalecer o empoderamento feminino.
A Adel lança, a partir de hoje, a Campanha Mulheres Empreendedoras com o objetivo de celebrar, ao longo do mês de março, as realizações de mulheres empreendedoras e protagonistas que atuam no Nordeste brasileiro. As mulheres empreendedoras são grandes protagonistas de suas vidas e de suas histórias. Elas lutam de forma resiliente por dias melhores, por uma sociedade mais justa e igualitária.
Diversas mulheres empreendedoras contribuem diretamente com o desenvolvimento econômico e social de comunidades rurais no Nordeste. São mulheres que inspiram outras mulheres a realizar seus sonhos. Quatro histórias dessas empreendedoras abrem a Campanha.
Meliponicultura e as mulheres de Cabeço
Jailza Oliveira, 33, agricultora e meliponicultora, acredita que o empreendedorismo é uma ferramenta essencial para o empoderamento feminino. Ela integra a equipe de gestão da Associação de Jovens Agroecologistas Amigos do Cabeço (JOCA), localizada na comunidade de Cabeço, Jandaíra (RN), que fomenta o protagonismo de mulheres e jovens.
A JOCA foi criada em 2009, a partir de discussões sobre agroecologia estimulada por Adriana Lucena, moradora local. É um ponto de organização de mulheres e jovens em um cenário de desmobilização e esvaziamento de atividades produtivas. Além de fortalecer a identidade comunitária e rural, a JOCA estimula o desenvolvimento das atividades ligadas a meliponicultura, tais como a produção de jardins catingueiros e de hortaliças e frutas.
Jailza e os demais associados da JOCA tem atuação ativa nos espaços de construção e fortalecimento dos Fóruns de Agroecologia, Economia Solidária, Comércio Justo e Desenvolvimento Territorial. Desde 2010, a Associação foi reconhecida mundialmente pelo seu trabalho de preservação da abelha nativa Jandaíra e integra o movimento internacional Slow Food.
Cabeço foi escolhido como Comunidade do Alimento e integra a Rede Mundial Terra Madre do Movimento Slow Food, instituição que compreende 1.800 comunidades de todo o mundo que compartilham suas experiências e seus trabalhos com o objetivo de proteger a qualidade dos alimentos e a produção local. A proteção das abelhas nativas sem ferrão e a divulgação do mel como produto de excelência é o foco do trabalho das mulheres e jovens da JOCA.
O sertão e a cultura nerd
A jovem Leonilda Soares, 32, decidiu usar seus conhecimentos de Informática para empreender na pacata Serrota, comunidade rural localizada no município de Pentecoste (CE). Única filha mulher de quatro irmãos, aos dezoito anos, foi sozinha morar em Fortaleza para fazer um Curso Técnico de Informática. Entretanto, após três meses trabalhando com telemarketing, retornou para sua comunidade. “Não era viável permanecer lá, era muito desgastante e a remuneração baixa”.
De volta à comunidade, Leonilda começou a trabalhar em uma Fábrica de Calçados. A função em nada se aplicava aos conhecimentos da informática, mas por necessidades trabalhou lá por dois anos. Nesse período ela fez algumas economias e manteve sua esperança de atuar na área de informática. Por motivos de saúde ela saiu desse emprego e no período em que recebia o seguro-desemprego decidiu começar um pequeno negócio dentro da própria casa.
“Eu tinha um computador e comecei a disponibilizar para os amigos e os vizinhos acessarem suas redes sociais, fazerem alguma atividade, entrar na internet. Acontece que o número aumentou e eu comecei a pedir uma taxa. Daí, comecei a lan house. Em seguida, eu percebi que todo mundo já tinha smartphones e agora eles precisavam era fazer uma impressão. E aí eu vendi os computadores e fui diversificando minha loja. Hoje eu produzo diversos brindes e vendo inclusive no mercado livre”.
Uma das inovações dos brindes feitos pela Leonilda é a divulgação da cultura nerd. “Eu gosto muito de rock, de tudo isso sabe. Aí eu comecei a fazer canecas, blusas com uma arte que fala desses dois universos [o sertão e a cultura nerd]. Porque a gente que é jovem curte isso. E eu sei que até existe certo preconceito de achar que o jovem do meio rural não consome esse tipo de cultura. E não é assim, eu curto muito rock, as pessoas curtem e aqui na loja a gente ouve muito. Eu me distraio muito e adoro o que faço”.
Catuana Artesanatos
Taís Lima, 27, é uma das jovens beneficiada pelo Programa Jovem Empreendedor Rural (PJER) desenvolvido pela Adel e fundadora do Catuana Artesanatos — empreendimento familiar que existe há mais de 10 anos na comunidade Catuana, em Caucaia (CE).
“Sou uma mulher empreendedora, sou protagonista da minha história dentro da minha comunidade. Antes do Catuana Artesanato eu era uma vendedora no Centro de Fortaleza, sem tempo para minha família, para minha filha, superlotada de trabalho e de dívidas, porque quando você não mora no seu local, onde reside a sua família, você fica com sua renda bastante comprometida por conta de aluguel, transporte, alimentação. E depois do Catuana Artesanato, nossa! Depois que eu tive o apoio da Adel através do PJER, eu tive a certeza que o artesanato era o que eu queria para minha vida”.
O Catuana Artesanatos aos poucos está envolvendo outras pessoas da comunidade, produz artesanato e peças decorativas tendo como matéria-prima o barro. Além do empreendimento gerar autonomia e renda para Taís, possibilitou o retorno da jovem aos estudos. Hoje Taís faz um curso técnico de meio ambiente para agregar conhecimentos e aprimorar o seu trabalho.
Mulheres de Zabelê
Em Zabelê, no município de Touros (RN), um grupo de mulheres improvisaram uma cozinha artesanal na sede da Associação do Assentamento Quilombo dos Palmares e estão mudando a cara da comunidade.
Desde 2012 elas trabalham juntas na produção artesanal de bolos e vendem os produtos para os programas de compras governamentais, gerando renda e trabalho para outras mulheres. Além da produção de bolos, as mulheres participam ativamente da associação, realizam reuniões, debates e discussões sobre os espaços de atuação da mulher na comunidade, planejam como ampliar a produção e a inserção de outras integrantes.
Inicialmente, o trabalho teve o apoio do Instituto Potiguar de Desenvolvimento de Comunidades (IDEC) que além de estimular a organização das mulheres, viabilizou a comercialização dos produtos (compra com doação simultânea) em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Atualmente, o grupo é apoiado pela Adel e pelo Programa EDP Renováveis Rural que busca fortalecer a inclusão socioprodutiva das mulheres na comunidade.