Seminário Desafios para inclusão socioprodutiva de jovens LGBT+ no Ceará

Dediane Souza, Labelle Rainbow e José Carlos Lázaro, da esquerda para a direita

A Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel) realizou na última segunda, 13/05, no Espaço de Formação de Empreendedores, no bairro Ombreira, Pentecoste (CE), o Seminário Desafios para inclusão socioprodutiva de jovens LGBT+ no Ceará.

Participaram do Seminário Dário Bezerra, Ativista LGBTI+ não-binárie, integrante da Coordenação de Projetos do Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB); Dediane Souza, Coordenadora Executiva da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Prefeitura Municipal de Fortaleza; José Carlos Lázaro, Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC); e, Labelle Rainbow, Travesti, Negra, que coordena, desde 2008, o For Rainbow Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual.

O Seminário marcou o início das atividades de formação do Projeto Diversidade e Empreendedorismo de Jovens Rurais que integra o portfólio de atuação do Programa Jovem Empreendedor Rural (PJER) e beneficia 28 jovens de cinco municípios no Ceará – Apuiarés, Paracuru, Pentecoste, São Gonçalo do Amarante e Tejuçuoca. Foi um momento rico em aprendizagem que abordou questões imprescindíveis à luta da população LGBT+, como o acesso a políticas públicas e a inclusão socioprodutuvita.

Dediane Souza, destacou que a garantia de direitos da população LGBTs é um desafio, pois ainda são poucos os equipamentos nacionais, estaduais e municipais que atendem a este público em contextos de vulnerabilidade social. “É preciso fortalecer a rede de proteção e promoção à cidadania LGBT, a gente vem primeiro erradicando a violência institucional, ela ainda é uma demanda de enfrentamentos”.

Para Dário Bezerra, da Coordenação de Projetos do GRAB, organização que atua há 30 anos em Fortaleza, na luta pelos Direitos Humanos da população LGBTI+ e de pessoas que vivem com HIV/Aids, pautar a inclusão socioprodutiva é necessário. “A gente ainda tem que discutir garantia de direitos e inclusão socioprodutiva para LGBT, mercado de trabalho, educação e saúde, por que somos pessoas ainda vistas como uma patologia pela sociedade. Existe uma conjuntura Mundial que é muito sutil, uma relação de poder, assim como o racismo que privilegia algumas populações em detrimento das nossas”.

A LGBTfobia é uma questão estrutural e poucas pessoas LGBT+, mesmo quando têm bons currículos, conseguem acesso ao mercado de trabalho formal. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), cerca de 90% das travestis e transexuais, da área de atuação da associação, admitiram se prostituir ao menos em algum momento da vida por não conseguirem um trabalho, o que aumenta a vulnerabilidade destas pessoas que estão em contexto de rua, tornando-as mais expostas a atos de violência. Dos LGBT+ que conseguem empregos formais, mais de 40% omitem sua sexualidade no ambiente de trabalho por medo de sofrerem preconceito ou mesmo serem demitidos.

Prof. José Carlos Lázaro (UFC)

O Prof. José Carlos Lázaro que pesquisa sobre diversidade, inovação e sustentabilidade ressaltou que a diversidade é uma riqueza e lamentou por existir poucos espaços para discussões positivas. “A sociedade tem uma visão de mundo estável e existe batalha para aceitar as diferenças, existe essa batalha porque existe gente que não quer ver o mundo diferente, propagar o conhecimento, as pessoas não podem sobrepujar seus valores individuais e egoístas sobre as outras pessoas, e a gente tem que acelerar isso. Eu reitero a importância da Adel e do empreendedorismo nesse Projeto, é uma força que pode germinar neste local, as pessoas comecem a pensar que todos têm direito à liberdade”.

A grande estratégia e desafio a ser enfrentado pela população LGBT+ segundo Labelle Rainbow é entender que a diversidade, as diferenças não são defeitos. “É por meio das diversas formas de amor e a busca pela liberdade que a gente vai seguir construindo e fazendo transformações, acreditando que é possível, a gente tá aqui fazendo e acontecendo, é possível sim lutar pelos Direitos Humanos e nós seguimos nessa luta”.

O Seminário foi mediado por Aurigele Alves, Diretora de Programas Adel e contou com a atração musical de Hesse Santana, junto com três companheiras que compõem o Projeto Casa das Negas, um espaço em Fortaleza, para fruição, apoio e cultura para mulheres negras LGBT+. Também participaram do evento: Eliseu Joca, Secretário de Agricultura de Tejuçuoca; Wilton Castro, representante do Conselho Tutelar no município de Paracuru; e, Nonata Duarte, Técnica de Referência de Núcleo de Diversidade Sexual LGBT (NUDES) do município de Apuiarés.

O Projeto Diversidade e Empreendedorismo de Jovens Rurais é a primeira iniciativa da Adel com foco exclusivo para a população LGBT+. É fruto do edital nacional LGBT+ Orgulho viabilizado pela parceria entre Itaú e Mais Diversidade, que visa incentivar o desenvolvimento de iniciativas que auxiliem e estimulem a visibilidade, segurança e respeito às pessoas LGBT+.

Para Carla Moura, 25, mulher trans do município de Apuiarés, participar do Projeto é uma oportunidade para difundir conhecimentos para outras mulheres. “Ter essa vivência de estar em grupo com outras pessoas LGBTs e trazer um retorno socioeconômico para mim e meu município e que eu possa enxergar outras possibilidades de inclusão de mulheres trans é essencial. O seminário foi muito construtivo, ver exemplos de mulheres trans que estão na luta, me mostrarem que eu sou capaz. Eu acho que a gente tem nas mãos as ferramentas certas para melhorar”.

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