Vanleide Alves Moreira, 27, reside na comunidade de Lagoa das Pedras, Apuiarés, composta por aproximadamente 80 famílias. Filha do casal de agricultores, Sr. Francisco Chagas e D. Maria Fátima, única filha mulher de três irmãos, aprendeu muito cedo o valor de morar no meio rural.
Vanleide é uma jovem que sempre morou na comunidade, em meio ao contato com a natureza, ajudando os pais a cuidar das plantações, das ovelhas, galinhas e futuramente das abelhas. Sr. Chagas, conhecido como Tenente, conta que a filha sempre teve interesse em dar continuidade ao seu trabalho na propriedade. “Ela tem muita paciência para cuidar dos animais. Ela sempre gostou de trabalhar no campo, se ocupava as vezes por conta própria na produção de hortas.”
Os pais de Vanleide residem na comunidade há quase três décadas e o sustento da família sempre foi das atividades agrícolas. Vanleide conta que aos sete anos já acompanhava o pai nas atividades e lembra que a maior dificuldade na época era a falta de água que impedia a produção das lavouras das famílias da região.
“Lembro que quando faltava chuva eu ia com meu pai e meu irmão mais novo buscar água em uma comunidade distante, íamos montados em um jumento, na ida era confortável, porque podíamos ir em cima do animal pois a vasilhas de carga d´água estavam vazias, mas a volta tinha que ser caminhando porque o jumento não podia levar tanta carga, ai era um cansaço só” (risos), relata a jovem.
Vinte anos passaram e o desafio de acesso à água permanece. Há mais de cinco anos a região convive com um grande período de estiagem e a ausência de chuvas fazem com que o cultivo dos pequenos grãos sejam escassos e a criação de abelhas nativas não tenha o êxito esperado. Com as cisternas de placas construídas na comunidade, a água para o consumo humano tornou-se mais acessível, mas para a produção agrícola não é suficiente.
Desafios
Vanleide conta que tanto ela quanto os irmãos tiveram dificuldades para estudar. Na época que eles eram crianças não existia na comunidade o fundamental II, fazendo com que ela e os irmãos estudassem em Lagoa das Pedras somente até a quarta série. Com isso, tanto os irmãos de Vanleide quanto outras crianças da comunidade não concluíram nem o Ensino Médio.
D. Maria de Fátima relata que a filha fez um caminho diferente e concluiu esta etapa. “Quando ela fez doze anos, passou a estudar na sede do município de Apuiarés, enfrentando a falta de transporte e chuvas no caminho da escola, a falta de livros e alimentação. Mas ela não desistia. Ela fazia de um tudo na época, estudava, mim ajudava em casa, ajudava o pai e os irmãos e também cuidava dos animais”.
Vanleide conciliava os estudos com as atividades em casa e na propriedade. Nesse período, ela já acompanhava de perto a criação de abelhas do irmão e do pai. Isso lhe motivou a buscar conhecimentos técnicos sobre a área. Após o Ensino Médio começou a fazer diversos cursos a fim de obter mais conhecimentos. “Busquei mais formação, precisava me capacitar, fiz curso de informática, agroecologia, apicultura e meliponicultura, beneficiamento de frutas, cooperativismo, e outros que não lembro agora”, afirma.
Com os conhecimentos técnicos adquiridos nos cursos, somado aos conhecimentos empíricos dos pais, Vanleide começou a fazer na propriedade, desde coleta seletiva a manejo de animais e horticultura. Mas, é a criação de abelhas sua principal paixão e atividade.
Acesso a Formação Empreendedora
Em 2010, através de uma mobilização de inscrições realizada na comunidade, Vanleide soube do Curso de Empreendedorismo e Gestão de Negócios do Programa Jovem Empreendedor Rural da Adel. Ela lembra a impressão imediata que teve na época.
“Eu me inscrevi inicialmente pensando que era um curso técnico com certificação, mas foi durante a formação que vi o sentido da coisa, era um curso muito bom, que estimulava na gente a vontade de empreender e ajudar ainda mais minha comunidade”.
Vanleide ingressou na formação e durante um ano conheceu diversas temáticas que fortaleceram o seu interesse de permanecer na sua comunidade e ajudar sua família. Ao final do curso ela elaborou um projeto de negócio para ampliar a sua atividade de apicultura.
Na época, Vanleide tinha quatro colmeias e avaliou durante o curso que a atividade poderia ser mais rentável e sustentável. Ela poderia ter sua própria renda e preservar a mata nativa. O irmão mais velho de Vanleide, Everardo Alves e o seu pai, trabalhavam com apicultura e meliponicultura. E, como Vanleide acompanhava os dois no manejo das abelhas, logo concluiu que a meliponicultura seria uma atividade mais viável para ela.
Através de estudos sobre a área, sobre agroecologia e manejo durante a formação conseguiu ampliar a produção, na época, para nove colmeias. Após a formação Vanleide investiu todo o seu conhecimento no seu negócio e orientou o pai e o irmão em como gerir a atividade.
Em 2012, Vanleide casou-se com Heldeson Barreto. Nesse intervalo de tempo ela se dedicou mais a nova família e compartilhou com o esposo a responsabilidade de cuidar das colmeias. Nesse período, tem enfrentado diversas dificuldades no manejo devido à falta de chuvas.
Vanleide juntamente com seu esposo, pai, irmão e outros membros da comunidade fazem parte da Rede de Meliponicultores do Vale do Curu, iniciativa do Programa Soluções Rurais da Adel que tem como objetivo contribuir para fortalecer a meliponicultura no Vale do Curu de forma agroecológica.
Atualmente, Vanleide cria abelhas nativas, colabora na gestão da Associação de Criadores e Produtores de Lagoa das Pedras e coordena o Centro Integrado de Tecnologias e Informação (Cit) na comunidade. Através da associação e do Cit ela mobiliza outros jovens que desejam permanecer no meio rural e desejam empreender na área.
Vanleide é uma referência para outros jovens em Lagoa das Pedras. Ela tem motivado a continuidade das atividades de meliponicultura e agroecologia na comunidade e sua renda principal vem da produção de mel de abelhas nativas.