Este ano, o nosso programa voltado para jovens rurais – PJER (Programa Jovem Empreendedor Rural) – chega ao seu 15º ano de desenvolvimento no Ceará. Nesse período, a iniciativa gerou impacto positivo na vida de mais de 3.500 jovens ao oferecer a eles acesso a conhecimento, a investimento, a redes de suporte, a cooperação e a tecnologia.
O PJER apoia os sonhos dos jovens rurais e contribui para que eles sejam agentes de transformação social em suas comunidades. A iniciativa surgiu a partir do diálogo com as lideranças e jovens dos municípios de Apuiarés e Pentecoste sobre a ausência de projetos para incentivar a permanência dos jovens em suas comunidades e ocupar espaços de liderança nas associações comunitárias.
“A gente sabia que os jovens tinham um papel fundamental no desenvolvimento local, no fortalecimento da agricultura familiar, na igualdade de gênero, mas faltava espaços para esses jovens pensar na inclusão produtiva e principalmente apoio. E foi isso que fizemos no início do programa na Adel: ouvimos as ideias dos jovens e apresentamos a eles ferramentas importantes, tanto conhecimento como um pequeno aporte financeiro e a oportunidade deles se conectarem uns com outros, estar em rede” relata Evilene Abreu, nossa Cofundadora e Diretora de Comunicação que esteve coordenando a primeira turma do Programa.
O PJER é uma estratégia para inclusão socioprodutiva de jovens de comunidades rurais em situação de vulnerabilidade, tendo o empreendedorismo e o protagonismo como estratégias possíveis para criação e aproveitamento de oportunidades sociais, econômicas e ambientais para que esses jovens possam permanecer no meio rural e contribuir para o desenvolvimento sustentável de seus territórios com suas vocações, seus saberes e suas potencialidades.
Atualmente, o Programa atende a 20 municípios em cinco microregiões cearenses, todos no Semiárido. Realidade caracterizada pela insegurança hídrica e alimentar, quadro potencializado pelo período de mais severa estiagem nos últimos 50 anos e pelo rápido avanço da desertificação. Dos jovens beneficiados pelo PJER, cerca de 85% deles permanecem vivendo em seus territórios de origem. Muitos deles empreenderam e iniciaram negócios locais. Outros investiram no progresso de sua educação formal, seja na educação técnica ou superior, tendo o empreendedorismo como uma possibilidade futura real.
Há os casos daqueles que, mesmo que não tenham desenvolvido uma veia empreendedora, pela perspectiva de negócios, se tornaram lideranças locais, mobilizadores, articuladores em suas comunidades, atores de referência para suas famílias, seus amigos e suas vizinhanças, que assumiram uma posição de protagonismo social entre seus pares.
Replicação e inovação do PJER
Reconhecido como uma tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil em 2013, (https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/programa-jovem-empreendedor-rural) a iniciativa foi replicada em 2018 para Amazonas em parceria com a ONG Casa do Rio. No mesmo ano, a iniciativa passou a ser implementada com escolas rurais, beneficiando a 600 estudantes e cerca de 100 professores e gestores de oito escolas nos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, contando com parceiros como o Criança Esperança, CEDCA/CE, Instituto Solea e a Elera Energias Renováveis.
Em 2019, o PJER inova mais uma vez, passando a atuar com a população LGBTQIAP+ que reside nos territórios rurais de cinco municípios cearenses: Apuiarés, Paracuru, Pentecoste, São Gonçalo do Amarante e Tejuçuoca. O objetivo é contribuir para inclusão e garantia de direitos de jovens LGBTQIAP+ que moram em comunidades rurais.
Diversidade é um dos pilares para o desenvolvimento sustentável de todo e qualquer território e para o desenvolvimento humano, em escala global. Entretanto, ainda são poucas as estratégias para o alcance de políticas públicas, para a garantia efetiva dos direitos humanos, para existência de ambientes seguros para a população LGBTQIAP+.
Novos protagonistas no meio rural
Diversos jovens que participam da formação do PJER mudam suas perspectivas sobre o meio rural. Nesses 15 anos podemos ver muitas mudanças de trajetórias e cada jovem protagonista promove transformações nas comunidades onde vivem. Temos muitas histórias e relatos de jovens que hoje são protagonistas de suas histórias. Quando eles terminam a formação do PJER nem sempre implementam o projeto de negócio que elaboraram, mas passam a ter um outro olhar sobre o lugar onde vivem.
Para Marcosuel Bastos, 34, morador da comunidade Jardim do Meio, em Paracuru/CE, o PJER lhe oportunizou enxergar novas possibilidades de trabalho em seu território. “Escolhi a profissão de barbeiro, no início não sabia nada. Foi durante a formação do PJER que passei a estudar mais e entender o que é empreender. Após a formação foram seis meses até cortar o primeiro cabelo de uma pessoa da comunidade, depois disso não parei mais. Hoje tenho um espaço bem estruturado e organizado. A formação me ensinou também a perder a timidez, fazer parcerias, conhecer pessoas novas com empreendimentos, com ideias, para poder compreender melhor o meu empreendimento e fazer dele um negócio de sucesso”, afirma.
Já Beatriz Rodrigues, 26, jovem empreendedora que mora na comunidade rural Barra do Córrego, em Itapipoca, no Ceará, o PJER é uma grande oportunidade para jovens que sonham em permanecer em suas comunidades. “Através do PJER consegui empreender na minha comunidade na área que sempre me identifiquei, salão de beleza. O programa, para mim, é uma oportunidade para nós jovens empreendedores que sonham em ter o desenvolvimento social na sua comunidade, gerando emprego, mostrando que somos capazes de permanecer na sua terra. Apesar das dificuldades, por meio do acesso ao conhecimento e da minha persistência, conquistando minhas clientes e me tornando referência para outras mulheres da minha comunidade que sonham em trabalhar na área”, reforça.
As ações do PJER contribuem com as metas estabelecidas na Agenda 2030, a partir da matriz de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ele é uma estratégia para promover desenvolvimento sustentável em uma região em que temos uma geração de jovens com níveis educacionais e potencial de conexão e acesso a conhecimento como nunca houve na história do Brasil.
