O Protagonismo das Mulheres Rurais

A atuação das mulheres no campo é diversa, elas são agricultoras, guardiãs de sementes, pescadoras, artesãs, extrativistas, educadoras, presidentes de associações, quilombolas, dentre tantas outras funções que exercem. A presença e contribuição delas no meio rural é cada dia mais evidente.

De acordo com levantamento realizado pela ONU Mulheres, elas são responsáveis pela produção de cerca de 70% dos alimentos consumidos na América Latina e Caribe. E já são quase 1 milhão de mulheres dirigindo propriedades rurais no Brasil, sendo a maioria, quase 60%, na região Nordeste, segundo o IBGE.

Hoje, 8 de março de 2024, celebramos o Dia Internacional das Mulheres e destacamos o trabalho, contribuição e protagonismo das mulheres no meio rural. Elas exercem um papel indispensável na agricultura, contribuindo diretamente para a segurança alimentar, crescimento econômico e bem-estar social. Nas suas comunidades rurais, elas também empreendem na área da beleza, com serviços personalizados para unhas, cabelo, vendem roupas, gerenciam gráficas.

Como é o caso de Beatriz Barbosa, 26, que reside na comunidade rural Barra do Córrego, em Itapipoca, no interior do Ceará. Ela participou da formação do nosso Programa voltado para jovens rurais e trabalha na área da beleza.

“Eu faço maquiagem, penteado, design de sobrancelha, depilação, micropigmentação. Com o apoio da Adel consegui ampliar meu empreendimento e sigo realizando um trabalho que eu gosto na minha comunidade”.

Beatriz Barbosa atua na área da beleza em sua comunidade rural

Mais do que um trabalho, a iniciativa de Beatriz contribui para elevar a autoestima de outras mulheres da comunidade e impulsioná-las a realizar seus sonhos. “Eu posso ajudar aqui as meninas que também têm vontade de trabalhar com isso, mostrar como podem movimentar o dinheiro e investirem para fazer seu próprio negócio”.

Já Rojane Santos, 30, que reside no mesmo município que Beatriz, mas na comunidade Sítio Coqueiro no Assentamento Maceió, trabalha com o beneficiamento do coco na agroindústria local. Ela produz óleo de coco, cocada, coco ralado e manteiga de coco. A jovem é uma liderança local, presidenta da associação comunitária Vida Melhor, artista popular no grupo cultural Balanço do Coqueiro, membro do MMTR-NE (Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste) do GT de juventudes da Rede de agricultores(as) agroecológicos(as) e solidários(as) do Vale do Curu.

Rojane Santos na agroindústria da sua comunidade

“A agricultura familiar é importante para mim porque garante alimento saudável e de verdade na mesa, contribui para a sustentabilidade do ambiente e diminui o êxodo rural, quando os jovens se dedicam a essa atividade. O curso da Adel foi muito importante para mim, pois estou aprendendo e desenvolvendo técnicas de como empreender no campo”, reforça Rojane.

Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), investir na igualdade de gênero e no empoderamento das mulheres do campo é uma ação incrivelmente inteligente para gerar crescimento econômico, segurança alimentar, oportunidades de rendimento e vidas melhores.
Eliminar as disparidades de gênero na produtividade agrícola e nos salários nos sistemas agroalimentares poderia aumentar o produto interno global em 1%, representando quase 1 bilhão de dólares, além de diminuir os níveis de insegurança alimentar global, levando a que mais 45 milhões de pessoas tenham segurança alimentar.

Para a agricultora Eliza Maria, 50, que reside em Tenente Laurentino Cruz/RN, uma das coisas que ela mais gosta é poder trabalhar no seu sítio. Por meio de nossas ações no território, ela recebeu um viveiro para a produção de hortaliças, mas antes ela já criava porcos e trabalhava na agricultura em períodos de chuva, cultivando feijão, milho e fava.

Agricultora Eliza Maria

“Isso aqui é uma benção mandada por Deus. Eu nunca imaginei que poderia receber algo assim e eu nunca trabalhei com hortaliças. Hoje está aí, já fiz uma retirada grande para venda e já estou replantando. Agora eu já sonho em aumentar para plantar outras coisas, como o pimentão, a pimentinha e o tomate. E eu sou muito feliz com essa vida aqui, porque eu planto, eu colho, eu crio, eu vendo e compro o que eu quero”, reforça Eliza.

Os desafios para a promoção da igualdade social e econômica entre mulheres e homens no campo no Brasil, ainda são prementes. As mulheres seguem sem ter assegurado seu direito à terra. Segundo o último Censo Agropecuário (2017), apenas 19,7% das mulheres da agricultura familiar e 15,2% do segmento não familiar tinham acesso à terra. O percentual de mulheres sem-terra era de 29,87%.

Mesmo quando são detentoras de terras, as mulheres possuem áreas menores em relação aos homens. Porém, onde elas estão à frente, os estabelecimentos da Agricultura Familiar são caracterizados pela diversidade e pluriatividade. Desde a produção de alimentos, plantas medicinais, mudas e sementes. Mas os estabelecimentos dirigidos por mulheres ainda têm menor acesso a máquinas, equipamentos, assistência técnica, crédito e água.

Para Ozana Fernandes, 59, uma das beneficiárias das nossas ações de Segurança Hídrica no Rio Grande do Norte, o acesso à água por meio de uma cisterna de placas fez toda a diferença. Ela reside em Caraúbas, comunidade rural do município de Lajes e recebeu uma cisterna com capacidade para armazenar até 16 mil litros de água proveniente das chuvas. As cisternas são uma tecnologia social de baixo custo e permitem o acesso à água própria para o consumo humano e produção de alimentos.

Agricultora Ozana Fernandes

“Antes da cisterna eu passava a manhã inteira buscando água no carro de mão para abastecer minha casa, isso era quase todo dia. O carro pipa passava uma vez no mês, mas eu só tinha uma caixa de mil litros, se eu tivesse uma cisterna a água duraria mais. Agora que tenho, a nossa vida melhorou, com ela cheia tenho mais tempo para cuidar das minhas plantas, dos meus animais e fazer outras atividades”, reforça.

As mulheres seguem concentrando o trabalho de cuidados e reprodução da vida. Segundo a Oxfam, as mulheres são responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado realizado no mundo, somando, diariamente, mais de 12 bilhões de horas. No Brasil, os dados são ainda mais desiguais, onde 85% do trabalho de cuidado é feito por mulheres. Na questão salarial, as desigualdades também não são diferentes no campo, onde as mulheres seguem com uma renda média menor que a dos homens que realizam as mesmas atividades.

A intervenção de Políticas Públicas é urgente, entre as principais iniciativas criadas e retomadas pelo Governo Brasileiro, estão o microcrédito rural produtivo, o Pronaf Mulher e o Pronaf B, que teve o limite dobrado no Plano Safra da Agricultura Familiar (de R$ 6 mil para R$ 12 mil), a priorização das mulheres no processo de seleção para o Programa Nacional de Reforma Agrária e para comercializar pelo Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA. Os serviços de assistência técnica e extensão rural, com foco em agroecologia, para mais de 10 mil mulheres e o Programa Quintais Produtivos.

Esperamos que a sinergia entre governo, população e sociedade civil organizada possam seguir na luta por uma sociedade mais igualitária, com mais oportunidades, segurança e respeito para todas as mulheres, seja no meio rural, no meio urbano, em todos os espaços que elas desejam ocupar.

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