Fortalecimento da cultura quilombola e empoderamento feminino na Paraíba

Roda de conversa “Diálogos sobre gênero: a importância de coletivos femininos negros rurais”, na Escola Municipal Educador Paulo Freire, em Cruz da Menina.

A Adel e a Neoenergia, com apoio do Instituto Neoenergia, realizam desde 2019, por meio do Programa SER – Saúde, Educação e Renda, diversas ações para fortalecer a cultura quilombola e o empoderamento feminino na comunidade Cruz da Menina, localizada no município Dona Inês, na Paraíba.

As atividades do Programa SER na comunidade têm como foco o acesso à água de qualidade para consumo humano e produção; e, a ampliação de capacidades das famílias, sobretudo das mulheres, por meio de ações educativas para promover a cidadania e a geração de trabalho e renda. A iniciativa inclui a construção de um Centro Cultural Quilombola. O espaço busca fortalecer o artesanato, o turismo rural e a culinária local, bem como o empreendedorismo e o protagonismo das mulheres.

São 73 famílias, cerca de 365 pessoas, envolvidas nas atividades do Programa, discutindo e refletindo sobre suas histórias de vida e a atuação dos atores locais para o desenvolvimento local.  Em março, mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher e o Dia Internacional contra a Discriminação Racial, o Programa SER promoveu junto com a comunidade local um debate sobre gênero e questão racial.

A roda de conversa “Diálogos sobre gênero: a importância de coletivos femininos negros rurais”, aconteceu no dia 31 de março, na Escola Municipal Educador Paulo Freire, em Cruz da Menina. 26 mulheres residentes na Comunidade Quilombola Cruz da Menina participaram da atividade. Foram discutidas questões sobre gênero, raça, saúde, educação, direitos e políticas públicas. Um diálogo aberto para trocas entre as participantes. 

Roda de conversa sobre gênero

A roda de conversa “Diálogos sobre gênero: a importância de coletivos femininos negros rurais” foi conduzida por Andreia Nazareno, 42, mulher negra quilombola da Comunidade Sítio de Grossos, localizada no município de Bom Jesus, Rio Grande do Norte, e, coordenadora da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), onde faz parte do Coletivo de Mulheres Negras Rurais Quilombolas.

Andreia Nazareno, coordenadora da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas).

Andreia iniciou a atividade com a leitura do poema “Cabelos” do escritor quilombola Antônio Bispo. Em seguida, ela falou da sua trajetória de luta e militância nos movimentos sociais e na conquista de direitos das pessoas quilombolas. Mãe solo de 4 filhos, bacharel em Gestão de Cooperativas e especialista em Gestão Territorial e Economia Solidária pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Andreia sabe bem o quanto é importante conhecer e estudar a própria cultura, enfrentar o racismo e o sexismo, e se envolver em questões voltadas ao território.

Para Andreia, a troca de conhecimentos e vivências como estas promovidas pelo Programa SER é uma oportunidade de despertar o interesse das mulheres para a formação de instâncias participativas locais e valorização da sua cultura. “É um momento único, onde cada quilombo tem suas especialidades, seus saberes, sua cultura. Fico feliz em trocar nossas vivências de mulheres negras quilombolas”, enfatiza.

As mulheres da comunidade receberam a proposta da ação com bastante entusiasmo, o que se refletiu ao longo da realização do momento, com muita troca e interação entre as participantes. É urgente a realização de debates com essa pauta, as discussões sobre gênero, questões raciais e diversidade precisam ser fortalecidas e isso se comprovou na fala das várias mulheres e lideranças presentes na atividade, que relataram retrocessos com relação a políticas públicas, direitos e o enfraquecimento das redes e coletivos.

Para D. Socorro, 63, que se diz nascida e criada no território Quilombola de Cruz da Menina, a realização da atividade é um motivo de orgulho. “Aprendi muito e desejo que venham mais conversas, mais palestras, mais coisa boa para nossa comunidade”, reforça. Bianca Cristina, 38, presidente da Associação Comunitária de Cruz da Menina e representante dos quilombos da Paraíba, relata que os temas abordados foram importantíssimos, principalmente questões políticas. “É necessário que nós mulheres ocupemos esses espaços, onde há uma maioria de homens brancos e aristocratas que excluem as minorias e fazem a velha política assistencialista”, destaca.

Grupo de dança Oxumarê

Para encerrar a atividade, houve a apresentação de percussão e dança maculelê do grupo Oxumarê, criado em 2004 e composto apenas por mulheres negras de Cruz da Menina. 

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