Um dos temas que abordamos com os jovens, agricultoras e agricultores rurais nos territórios onde atuamos é a comercialização e o acesso a mercados para escoar os produtos da agricultura familiar. Falar sobre esse assunto faz parte do cotidiano das famílias que moram no Semiárido e convivem com essa realidade.
A maioria dessas famílias têm dificuldade de comercializar os produtos que cultivam em suas propriedades. Muitas vezes pela exigência dos consumidores que querem produtos frescos e de qualidade, outras porque falta acesso ao conhecimento, estratégias de comunicação e marketing; e, até mesmo pelo desconhecimento sobre as políticas públicas de acesso a mercados para os produtos da agricultura familiar.
Nos nossos projetos, buscamos por meio de oficinas, rodas de conversas e assessorias técnicas partilhar informações sobre o tema de forma acessível e contextualizada com a realidade local. Sempre que vamos abordar esse assunto, iniciamos o conteúdo falando sobre a importância da comercialização, os conceitos, os canais de comercialização e algumas estratégias para comercializar os produtos na comunidade ou no próprio município onde a agricultora e/ou o agricultor mora.
Conforme dados do último censo agropecuário do IBGE (2023), as propriedades de agricultura familiar somam 3,9 milhões no país, representando 77% de todos os estabelecimentos agrícolas. O estudo ainda mostra que a agricultura familiar responde por 40% da renda da população economicamente ativa de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes, que representam 68% do total do país.
Apesar dos avanços e da agricultura familiar fazer o dinheiro circular nos territórios rurais, gerando um efeito multiplicador de emprego e mais renda, muitas famílias ainda lidam com a ausência de certificação necessária para agregar valor aos seus produtos.
Dentre as políticas públicas existentes para que essa garantia de comercialização dos produtos da agricultura familiar possa acontecer em maior escala, destacamos o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) – um dos mais antigos programas sociais do Governo Federal e um dos maiores programas de alimentação do mundo; e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) – que prioriza a aquisição de alimentos diretamente da agricultura familiar. Também temos o Selo Nacional da Agricultura Familiar (SENAF) concedido às agroindústrias e cooperativas/associações portadoras da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP).
Quando informamos sobre as políticas públicas existentes para que essa garantia de comercialização dos produtos da agricultura familiar possa acontecer em maior escala, buscamos incentivar a produção e o consumo dos mesmos, visando o desenvolvimento sustentável.
Interessante pontuar que não perdemos de vista outros mercados e dialogamos com as famílias sobre as feiras e vendas diretas a estabelecimentos comerciais nos próprios municípios. Os mercados formais, como as feiras livres, por exemplo, são um dos acessos mais utilizados pelos jovens, agricultoras e agricultores familiares nos estados onde atuamos.
A exemplo, na Bahia, acompanhamos recentemente, no município Pindaí, a Feira de Economia Solidária da Agricultura Familiar, do Cesol Sertão Produtivo. No Ceará, temos a Feira Caroá, que acontece semanalmente, tanto virtual quanto presencial, em Fortaleza. A Feira Caroá é uma iniciativa de jovens egressos do nosso programa com jovens que comercializam produtos agroecológicos.
As Feiras propõem inspirar as lideranças e reafirmar o potencial produtivo de agricultores e agricultoras familiares em suas comunidades, além de reforçar a importância da organização coletiva para que consigam usufruir de oportunidades no setor.