No Dia Nacional da Caatinga, celebramos o único Bioma exclusivamente brasileiro esperançosos em construir uma outra relação e olhar para esse território através do uso sustentável da imensa biodiversidade que esse lugar abriga.
Ao contrário do que povoou por décadas o imaginário das pessoas, quanto a um lugar de miséria e escassez de recursos, a Caatinga tem mostrado a capacidade de ofertar uma série de serviços ecossistêmicos, responsáveis por garantir qualidade de vida para as pessoas que dependem diretamente desse ecossistema. A produção de conhecimento intensificada nos últimos anos, tem sido responsável por fomentar o desenvolvimento econômico e social, fortalecendo o semiárido e contribuindo para a superação de problemáticas históricas desse território.
Responsável por abrigar uma rica diversidade de povos, paisagens e espécies da fauna e flora ainda pouco conhecidas, a mata branca da Caatinga recobre aproximadamente 11% do território nacional e abrange os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, parte do Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. Situada na região semiárida mais populosa do mundo, esse ecossistema, destaca-se pela sua alta capacidade de adaptação durante os períodos de estiagem, tanto em relação a escassez de água, quanto em relação a aridez do solo. No entanto, apesar da resiliência, especialistas indicam que devido os recentes eventos climáticos extremos, o bioma esteja operando dentro dos limites de sua capacidade.
Além dos problemas que resultam das mudanças climáticas, é necessário destacar que o bioma passa por um histórico processo de degradação derivado do seu processo de ocupação desordenado, responsável por exercer uma forte pressão sobre os recursos existentes. Dentre as principais ações humanas que aumentam os riscos de desaparecimento do patrimônio genético e ecológico da Caatinga, é possível citar o avanço do processo de desertificação, o desmatamento para pastagens e monocultura agrícola, a extração de lenha para fins energéticos, a mineração, o pastoreio excessivo de caprinos e bovinos e a crescente urbanização de determinadas porções.
Preparamos um vídeo que fala sobre a importância da Caatinga e o quanto ela resguarda riquezas e belezas. A produção é composta por cenas de nossas ações em todo o Nordeste brasileiro. Confira!
Educação contextualizada para conservação da Caatinga
O educador social Paulo Freire sempre defendeu o lugar da educação como elemento chave de transformação de contextos sociais. Para o pensador, o processo de educação está ligado a troca de saberes, contrapondo a ideia de educação como transmissão de conhecimento. É nessa perspectiva que estamos desenvolvendo com diferentes territórios do semiárido, formações ambientais contextualizadas, visando construir junto às comunidades rurais, um olhar sensível para as questões ambientais locais. As formações contam com momentos teóricos e práticos, e têm como foco dois públicos: a comunidade de modo mais amplo e professores da Rede Pública de Ensino, uma vez que as escolas devem assumir cada vez mais o protagonismo em suas comunidades, construindo diálogos e propondo a transformação desses territórios.
As temáticas abordadas se concentram na fauna e flora, agroecologia, recursos hídricos, resíduos sólidos e coleta seletiva. A vivência busca o desenvolvimento de expertises dos atores locais para o reconhecimento dos impactos de suas ações no meio ambiente e o compartilhamento de tecnologias sociais capazes de reduzir o impacto dos resíduos sólidos nesses espaços. Também são apresentadas nas oficinas, técnicas aplicadas para estimular a decomposição de materiais orgânicos por microrganismos, como por exemplo, a utilização da compostagem doméstica, uso e aproveitamento dos recursos hídricos.
Meliponicultura como fonte de renda e preservação ambiental
Outras ações que realizamos com foco em garantir a preservação ambiental da Caatinga aliada a geração de renda para as famílias, destaca-se a Meliponicultura, atividade que consiste na criação de abelhas melíponas (sem ferrão), prática que vem ganhando inúmeros adeptos.
A Rede Néctar do Sertão congrega produtores de diversas comunidades rurais dos municípios de Apuiarés e Pentecoste, no Ceará que veem na Meliponicultura uma ação social e econômica, mas principalmente uma oportunidade de preservação ambiental e valorização do bioma Caatinga. Os meliponicultores são responsáveis por uma reserva ambiental com cerca de 100m², onde foram plantadas diversas espécies nativas da Caatinga, tais como aroeira, angico e pau d’arco, também conhecido como ipê. As espécies foram estrategicamente pensadas pela afinidade que possuem com a abelha nativa jandaíra, que segundo os produtores é bem seletiva.
A reserva envolve o Meliponário Modelo da comunidade, um espaço de produção, aprendizagens e trocas de conhecimentos. Como os meliponicultores estão organizados em Rede, é possível gerir de maneira sustentável e colaborativa o espaço, o que consequentemente fortalece a atividade no território.
Os projetos com foco na meliponicultora e também na apicultura, estão sendo expandidos para outros municípios do Ceará e de outros estados do Nordeste. O mais recente está sendo desenvolvido na região do Cariri cearense, um grupo de 6 apicultores locais dos municípios de Abaiara e Milagres.
O maior legado dessa proposta é promover o desenvolvimento econômico e social dessas comunidades, aliado ao trabalho de preservação e conservação da fauna e flora que a Caatinga abriga.
Nesta semana que celebramos o Dia Nacional da Caatinga, realizamos uma live no nosso canal do YouTube para fortalecermos essa data tão significativa. Nosso Diretor Executivo, Adriano Batista, recebeu dois convidados para discutir sobre a sociobioeconomia desse bioma exclusivamente brasileiro. Assista na íntegra abaixo.